Professor, não é só o programa que importa

Tempo De Leitura ~3 Min.

Certamente também já aconteceu conosco conhecer um professor que consegue antagonizar seus alunos discutindo ou mesmo impedindo-os de falar. Uma atitude que deixa muito a desejar e que alguns definiriam como rebaixar-se ao nível do aluno. Existem também outros tipos de professores: aqueles que entram na aula e leem o programa do livro sem nenhuma explicação ou aqueles que parecem estar sempre com pressa e ficam dizendo: Não temos tempo para abordar todos os assuntos.

A dinâmica é a mesma. Um professor que pode se dar melhor ou pior com os alunos, mas cujo único dever é respeitar o programa de ensino focar nas notas que os alunos tiram (e se forem a partir de 8, melhor) e dar muitos trabalhos de casa para aumentar o conhecimento e a aprendizagem dos alunos. Mas será que não falta alguma coisa nisso tudo?

Diga-me e eu esqueço, ensine-me e eu lembro, envolva-me e eu aprendo.

-Anônimo-

Professor, o programa não é o mais importante

A ansiedade de respeitar o programa, atingir os objetivos ou chegar ao final do livro acaba destruindo o criatividade de jovens que, longe de aprender, procuram internalizar da melhor forma possível a grande quantidade de informações fornecidas. O problema é que no ano seguinte não se lembrarão de nada ou quase nada do que os professores reclamam.

Porém, poucos professores têm coragem de verificar se a sua forma de proceder está correta. A importância dada votos a falta de empatia dirigida ao aluno, em particular ao adolescente, e a forte influência do professor sobre os seus alunos são questões que ninguém parece querer abordar.

Depois de entrar na sala de aula parece que alguns professores se esquecem da parte humana de todo o processo educativo. Principalmente com estudantes adolescentes. Não é de surpreender que quando um ato de intimidação ou violência, que os professores ponham as mãos nos cabelos e exclamem surpresos: Não percebemos!. É natural, especialmente quando os alunos são indiferentes a eles.

No entanto, embora haja um certo número de professores que são incapazes de inspirar e transmitir aos alunos a paixão que devem sentir pelo seu trabalho, há também muitos outros que o conseguem. Aqui está o testemunho de um aluno feliz de seu professor:

O melhor professor da minha vida foi Manuel Bello. Ele foi meu professor de literatura na quinta série [...]. Foi ele quem promoveu em mim o gosto e a paixão pela leitura. No ambiente bastante sufocante e pouco pedagógico da escola daquela época, onde abundavam os admiradores dos professores que não eram professores [...] este professor conseguiu [...] motivar-me a ler de forma natural.

Um aluno pode adorar matemática e acabar odiando ou amando dependendo do professor que conseguir. Outro pode nunca se tornar um escritor habilidoso pelo qual seja apaixonado porque se depara com um professor que critica negativamente seus escritos. Influência dos professores autoestima de seus alunos.

Um professor pode gerar mudanças em seus alunos

Assim como a escolha do reforço positivo ou negativo afeta o comportamento das crianças em casa, o mesmo acontece na sala de aula. Se um professor não acredita nos seus alunos, é isso que ele passa para eles. Se ele não for capaz de motivá-los, fica claro que a situação não melhorará por si só. Então reclamar é inútil. Porque o educador tem um poder que não quer usar ou não conhece.

Tudo isso pode ser afirmado com base na experiência pessoal de quem escreveu este artigo. Ela não foi apenas uma estudante (algo que muitos professores esquecem), mas também estagiária como professora do ensino secundário. Com os próprios olhos viu o tutor do estágio sentir inimizade e com os próprios ouvidos ouviu as seguintes palavras sobre um aluno: Não tem o que fazer com esse cara, não abra livro.

Aquele tutor só viu adolescentes rebeldes na sua frente alguns melhores que outros, mas a grande maioria são descuidados e crianças. Essa visão não coincidiu com a do seu estagiário que, sem ainda os conhecer ele observou quantos deles se sentiam inseguros, desmotivados e sem autoestima e foi capaz de adivinhar quem entre eles tinha problemas familiares sem precisar perguntar.

Curiosamente, quando durante dois meses assumiu as rédeas da turma, aquele aluno que não abriu um livro o fez. Ele não foi ignorado em nenhum momento e muito menos tratado com desdém. Ele nem foi ordenado a fazer atividades que não queria e algo simplesmente mudou.

A forma de conduzir a aula, a paixão transmitida que fazia com que os alunos tivessem até vontade de sair e falar em público, levaram aquele aluno a observar como os colegas trabalhavam com prazer. Então ele também abriu o livro e o caderno por iniciativa espontânea e realizou o exercício exigido: escrever um texto.

O tutor ofegou. Ela disse ao estagiário que havia conseguido o impossível. Porém, ela só pensava naquele aluno e em sua redação, através da qual pôde constatar o que já imaginava com quase absoluta certeza: ele morava em um família disfuncional . Infelizmente ele não pôde continuar porque o estágio havia chegado ao fim. No entanto, a experiência lhe serviu bem perceber a importância do professor em gerar uma mudança de atitude no aluno.

O professor medíocre diz. O bom professor explica. O professor superior demonstra. O grande professor inspira.

-William A. Ward-

O comentário do tutor foi que permitir que os alunos se deslocassem ao quadro negro para apresentar alguns exercícios em grupo era positivo, mas que a longo prazo demorava muito tempo longe do programa. Porém, surge uma pergunta: o que é mais importante? O aluno deve aprender divertindo-se, expressando-se diante dos colegas e realizando uma atividade educativa ou deve reprimir tudo isso apenas para dar mais tempo a um programa do qual internalizará apenas uma pequena parte?

É necessária uma mudança na sala de aula. Embora existam escolas que praticam o Método Montessori ou outras como a escola Sadako em Barcelona onde não existem carteiras individuais, onde se incentiva a aprendizagem colaborativa e a educação emocional, social e filosófica, a maioria das escolas ainda se baseia no modelo tradicional. Um modelo que não funciona para todos. O programa, embora importante, não é tudo.

Publicações Populares